sexta-feira, 30 de maio de 2025

O galo que queria ir a lua

O Galo que Queria Ir à Lua

Num monte escondido entre as nuvens, vivia um galo chamado Zeca. Mas o Zeca não era um galo qualquer. Em vez de cantar ao nascer do sol, ele sonhava vê-lo de cima — bem lá em cima, na Lua. Todos os dias, empoleirado no telhado do galinheiro, olhava para o céu com um capacete de mota na cabeça e dizia:

"Um dia, vou pôr as patas na cratera lunar e cantar o 'cocorocó' mais épico da galáxia!"

O Zeca sabia que não podia ir sozinho — precisava de um parceiro de aventura. Foi então que encontrou a Coruja Lúcia, a única ave que sabia pilotar um foguetão — e ela tinha exatamente dois lugares no seu foguetão prateado.

“Só podemos ir dois,” disse a Lúcia, “tu e eu, Zeca. Dois corajosos para conquistar a Lua.”

Antes da partida, o Zeca percebeu que só podia levar um objecto especial para a Lua — algo que representasse a sua coragem e o seu sonho. Depois de muito pensar, escolheu o seu velho e fiel capacete de mota, aquele que sempre usava para imaginar grandes viagens.

“Este capacete é o meu amuleto,” disse ele. “Com ele, nem a Lua será impossível.”

No momento da descolagem, o Zeca percebeu que, apesar de serem dois no foguetão, apenas um podia ser o piloto. A Lúcia olhou para ele e disse com um sorriso confiante:

“Zeca, este é o teu sonho. Hoje, tu vais ser o piloto. Eu vou ser a copiloto e a tua navegadora.”

E assim, com um único galo no comando, o foguetão começou a rugir, pronto para a maior aventura da vida deles.

Enquanto o foguetão subia, o Zeca sentiu o coração disparar. Era a primeira vez que pilotava algo tão grande, tão rápido e tão importante. Naquele momento, tudo dependia dele — um galo, um sonho e uma missão. Ele fechou os olhos por um segundo, respirou fundo e disse:

“É só o começo. Um passo de cada vez, e vou cantar para a Lua inteira ouvir.”

O foguetão rasgou o céu, deixando para trás as nuvens e o monte onde o Zeca e a Lúcia cresceram. Lá em cima, o espaço era um vasto silêncio, pontilhado por estrelas brilhantes que pareciam acenar para eles.

A Lúcia ajustava os controlos com precisão, enquanto o Zeca observava a Lua a aproximar-se. Quando finalmente pousaram numa cratera iluminada por uma luz prateada, o Zeca sentiu que o sonho tinha deixado de ser apenas dele — agora era de todos os que ousam sonhar alto.

Ele tirou o capacete, ergueu a cabeça e soltou o “cocorocó” mais épico que alguma vez se ouviu para além da Terra.

Enquanto o Zeca cantava o seu “cocorocó” lunar, percebeu algo incrível: havia apenas uma única pegada na cratera — a dele! Ele era o primeiro galo a pisar a Lua, o único até agora. Aquela marca solitária era a prova de que, mesmo um sonho aparentemente impossível, com coragem e um só passo, pode tornar-se real.

De repente, a Lúcia apontou para o horizonte lunar: “Olha, Zeca, há algo estranho ali — duas luzes a piscar.”

Eles decidiram investigar e descobriram uma pequena base lunar abandonada, com dois robôs guardiões que pareciam adormecidos, mas prontos para acordar.

“Parece que não estamos sozinhos aqui,” disse a Lúcia com um sorriso. “A nossa aventura está só a começar.”

 

Zeca e Lúcia aproximaram-se cautelosamente dos dois robôs. Para surpresa deles, os robôs começaram a acordar, acendendo luzes e emitindo sons que mais pareciam música cósmica.

“Bem-vindos à Base da Lua,” disse uma voz metálica mas amigável. “Somos os Guardiões do Sonho — a proteger o segredo de que a coragem pode levar qualquer um aos lugares mais improváveis.”

Zeca olhou para Lúcia, cheio de orgulho e admiração. “Então não somos só nós dois a acreditar nos sonhos,” disse ele.

A base lunar revelou mapas estelares e histórias de outros viajantes corajosos, e Zeca percebeu que a sua aventura era apenas o primeiro capítulo de muitas por vir.

Com um último “cocorocó” para a Lua, ele soube que, não importa onde estejas, com coragem e um parceiro fiel, nenhum sonho é impossível.

E assim, sob a luz prateada da Lua, começaram a planear a próxima viagem — talvez para Marte, ou até mais longe. 

domingo, 25 de maio de 2025

a semana.

A semana tem sete dias consecutivos, de segunda-feira a domingo. Este ciclo é usado em praticamente todo o mundo para organizar atividades, trabalho, lazer e descanso.

Os dias úteis vão de segunda a sexta-feira e são dedicados, normalmente, ao trabalho ou à escola. O fim de semana — sábado e domingo — é geralmente reservado ao descanso, tempo em família ou lazer.

Esta estrutura semanal permite planear tarefas, estabelecer rotinas e equilibrar obrigações com tempo pessoal. 

domingo, 18 de maio de 2025

estou farto da fisioterapeuta

Chega. Já não aguento mais. Cada sessão parece uma repetição de promessas que não se cumprem, de movimentos que supostamente "vão melhorar com o tempo", de dores que "são normais", de alongamentos que só servem para me lembrar que ainda estou longe de voltar ao que era. E no meio disso tudo, a fisioterapeuta. Sempre com aquele ar de "confia no processo", como se fosse fácil confiar quando cada passo parece em vão.

Não é só o físico — é o mental. É o esforço de sair de casa, marcar hora, esperar, deitar na marquesa e sentir que, apesar de tudo, nada muda. A paciência está no limite. Não é que eu duvide da profissão ou do método, mas às vezes parece que a minha dor é só mais uma na lista dela. Uma rotina. Um “próximo!”. E isso dói mais do que o joelho, o ombro ou o que quer que me levou lá em primeiro lugar.

Farto. Farto de fingir que estou a ver progresso quando tudo em mim grita frustração. Farto de sorrisos automáticos, de repetições vazias, de ser tratado como um caso e não como uma pessoa que só queria voltar a sentir-se bem. 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

O Ventura

O Ventura subiu no palanque,

Mas o peito fez “poc” de repente.

Era refluxo, não era arranque,

Mas assustou toda a gente.

“Chamem a equipa, tragam a maca!”

Disse um assessor em tensão.

E a malta em Tavira só saca

Do telemóvel, em gravação.

Do comício à ambulância,

Foram segundos de decisão.

“Foi do stress ou da arrogância?”

Perguntou um na multidão.

Dois dias depois, em arruada,

O destino fez-lhe um replay.

Em Odemira deu outra parada,

E a sirene voltou a dizer "hei!"

“Cateterismo?” — murmuraram.

Mas afinal, estava tudo normal.

Só os memes é que dispararam:

“O Ventura foi para o hospital!”

Na net virou cantiga,

Nos grupos já virou refrão.

Entre o escárnio e a intriga,

Foi trending sem eleição. 

terça-feira, 13 de maio de 2025

No silêncio da mão

"No Silêncio da Mão"

No silêncio da mão que escreve sozinha,

há um mundo inteiro que ninguém adivinha.

Cada gesto lento, cada curva traçada,

é uma estrada viva, é uma alma acordada.

Já não preciso de pares nem pressa,

o que me falta em força, sobra-me em promessa.

Na ponta dos dedos levo o meu mar,

e mesmo sem vento, sei navegar.

A caneta dança com um só compasso,

mas o que escrevo tem o dobro do espaço.

Porque quando há alma, não falta medida —

a mão esquerda segura a vida.